quarta-feira, 13 de maio de 2009

"uma taitiana segurando uma fatia de melancia"


"Vik Muniz reproduz a Mona Lisa com pasta de amendoim e a Última Ceia com calda de chocolate. Em vez de ganhar um programa no Discovery Kids, ele tem suas obras compradas pelo MoMA.

Mister Maker tem um programa no Discovery Kids. Ele ensina a pintar coelhos e paisagens marinhas usando materiais insólitos como balas de goma, embalagens de ovos e tampinhas de garrafa. Vik Muniz é o Mister Maker do MoMA. Ele reproduz a Mona Lisa com pasta de amendoim e a Última Ceia com calda de chocolate. Em vez de ganhar um programa no Discovery Kids, ele tem suas obras compradas pelo Museu de Arte Moderna de Nova York.

Aleijadinho? Portinari? Hélio Oiticica? Lygia Clark? Ninguém é páreo para Vik Muniz. Ele é o artista brasileiro mais festejado de todos os tempos. Ele está para a arte brasileira assim como Leonardo da Vinci está para a arte italiana. O que já diz tudo sobre a arte brasileira. Vik Muniz valorizou as técnicas mais desprezadas da história da arte: a cópia e o trompe-l’oeil. Primeiro, ele copia, fotografando. Em seguida, reconstrói a imagem colando sobre ela elementos de uso cotidiano, como molho de tomate, geleia de amora e soldadinhos de plástico, em forma de mosaico. O resultado se assemelha às telas de Arcimboldo, o pintor maneirista que compunha figuras humanas a partir de legumes, frutas e livros. Além de ser o Mister Maker do MoMa, Vik Muniz é o Arcimboldo cearense. O Arcimboldo pau de arara.

Nos últimos anos, os artistas brasileiros se espalharam por museus e galerias dos Estados Unidos e da Europa. Vik Muniz é o mais popular de todos. Mas há outros na cola dele. Em particular: Cildo Meireles, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto. Inicialmente, eles eram patrocinados pelo Banco Santos, do fraudador Edemar Cid Ferreira. Assim como as mulheres dos deputados, os artistas brasileiros iam a Veneza, Berlim ou Nova York com todas as despesas pagas pelos contribuintes. Agora isso mudou. Eles ganharam o mercado mundial. Em 1891, Paul Gauguin abandonou Paris e foi retratar os selvagens no Taiti. Um século depois, os artistas brasileiros percorreram o caminho inverso: eles representam os selvagens do Taiti indo retratar Paul Gauguin em Paris. Vik Muniz é aquela taitiana com o seio de fora. Ele é aquela taitiana de cócoras. Ele é aquela taitiana segurando uma fatia de melancia.

A meta de Vik Muniz é "romper a hierarquia da arte". É o que ele faz quando pendura uma cópia de Rafael ao lado de uma cópia de Bosch. O mesmo discurso populista e popularesco é estendido ao público de suas obras. Segundo ele, tanto faz se o espectador é um curador de arte ou um bilheteiro. Vik Muniz sempre diz que é um produto do Brasil. E é mesmo. Nós rompemos a hierarquia das ideias, dos valores, dos gostos, dos costumes, das leis. Os outros fizeram a Mona Lisa. Nós a lambuzamos com pasta de amendoim."

Matéria escrita por Diogo Mainardi
Revista Veja . Sábado . Maio 09 . 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

ter, tempo, espaço e colapso


Tempo? Espaço? Pra que? Por que? Se eu “penso, logo existo”, então o tempo e o espaço seriam condições de existir. Mas em meio ao colapso eminente da vida humana, existe esse “tempo” ou “espaço”? Pensamos ou existimos?

Vejam o forno microondas, a tv de plasma, o “Faustão”, o “BBB”, a moda, ipod e wii. Deixam de existir porque não pensam? Bom, gostaria de afirmar que não, mas, estão lá! No espaço de nossas salas, quarto e cozinhas, andando conosco pelas ruas, dizendo coisas, propagando nosso tempo, transmitindo verdades de liquidificador.

Surpreso pela idéia de que meu forno e até o “BBB” pensam, pergunto-me: Estaria no tempo de assar um belo pedaço de frango, onde o prato rotaciona a comida pacientemente esperando o agitar das moléculas, a resposta para os anseios de nossos tempos, cada vez mais escasso de espaços para pensar?

Numa época de colapsos da economia, das finanças, das balanças comerciais, das relações humanas presenciais, do amor, do carinho, da esperança no futuro, da natureza e seus recursos, não estaríamos, então, percebendo uma nova realidade de existir, onde nosso tempo e espaço entram em colapso? Onde presente, passado e futuro parecem nada significar? Onde milhares de infinitos corpos podem ocupar o mesmo lugar e tempo no espaço?

Quando substituimos o “pensar”pelo “ter” não damos ao deleite das “coisas” a ordem do nosso existir? Então, se tenho logo existo, o tempo da vida passa a ser o tempo das “coisas”. O que tenho me permitiria o tempo certo e apropriado para meus espaços, sendo assim, quem tem as “coisas” seriam os “Deuses” de nossa vontade? Ou até de nossa felicidade? Parece-me que quanto menos eu tenho, mais tempo e espaço sobram para perceber que nada somos além de um imenso colapso do existir. Apenas uma agitação frenética de moléculas girando num enorme microondas e esperando o tempo do término.

Agora que me permito mergulhar em pensamentos de teclas percebo que sinto um pesar pelo tempo em que espaços da vida eram tomados pelos sorrisos, lágrimas e abraços e não por uma tecla de dividir palavras. Tempo de pensamentos divididos e vividos e quando as “coisas” apenas ocupavam espaços e agilizavam o tempo para nosso sentimentos. Tempo esse, onde o ter era o simples prazer de ser.

Alexandre Soma (Arte e Texto)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

cândido portinari


A arte muralista do mestre antropofágico brasileiro

Caboclos, mamelucos, indígenas, negros e saltimbancos! Nossos "abaporus"!

Enquanto Oswald de Andrade convocava a digerir e fazer renascer a arte pós-impressionista européia com a face do pau-brasil em seu manifesto antropofágico da semana de arte de 1922, Cândido Portinari ainda estudava desenho e pintura na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, sem imaginar que se tornaria o maior dos antropofágicos daquela geração.

Nascido numa fazenda de café em Brodowski, São Paulo, em 1903 e trabalhando, ainda menino, como ajudante de restauração de igrejas ao lado de pintores italianos, Portinari viveu o dia-a-dia da terra e do mestiço: "Eram belas as manhãs frias na época da apanha do café. Quantas vezes adormecíamos sobre as sacas. (...) Belas eram as seriemas, as saracuras e os tatus".

Do primeiro mural de quase 8 metros pintado em 1936, até a inauguração dos painéis “Guerra e Paz” na sede da ONU em 1957, Portinari dedicou sua incrível arte e sensibilidade aos aspectos culturais, sociais e até políticos - vide a obra “Tiradentes” acima - dessa “miscigenação mundial brasileira” que se consolidou na primeira metade do século XX.

Ironicamente, morre em 1962, no Rio de Janeiro, de intoxicação pelas próprias tintas que coloriram e registraram a nossa antropofagia. Quando proibido de pintar reclamou: “Estou proibido de viver”.

Hoje, quando atravesso nossas metrópoles e vejo nossa arte urbana representando os “macunaímas do dia-a-dia”, como a dos irmãos “Os Gêmeos”, vejo o orgulho dos símbolos brasileiros nas cores da nossa “tropicália” e do nosso mestre, pincelado pelos murais do mundo.

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Antropofagia

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Portinari

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

burle marx 100 anos


Enquanto iniciava minha visitação à exposição Burle Marx no paço imperial, centro do rio de janeiro, ouvia um sujeito, nitidamente desconhecedor absoluto de arte dizer, enquanto olhava às primeiras pinturas do artista, ainda em seu período de aprendiz do pintor Guignard: “Nossa, até que enfim uma pintura que sou capaz de entender!”

Claro! Para os poucos ou nada entendedores de arte e de linguagem artística fica realmente difícil de trazer à realidade as percepções inconscientes e subliminares da experiência, sensibilidade e magia que existem na mente de um pesquisador da percepção humana. Mas, o que seria de nós se não fosse a “abstração”?

A abstração, o inconsciente, a fantasia, aquilo que não é palpável, ou até mesmo o total imaginário nos é tão vital quanto o próprio ar. A permanência em vida depende completamente do quanto somos capazes de seguir a intuição e nossos sonhos. Sem eles somos crús, patéticos e repetitivos. Com eles, tudo ganha cores, odores e sensações que acariciam a grandiosidade e afetividade humana tão escondida em nossos medos diários.

Marx é um gênio indubitavelmente constatado na exposição: “Roberto Burle Marx, a permanência do instável – 100 anos”, que está no Paço Imperial desde o dia 12 de dezembro de 2008 e ficará até o dia 22 de março de 2009. São 2 pavimentos dedicado às múltiplas facetas desde incrível “manipulador das formas e cores”, incluíndo um tapete de mais de 20 metros de comprimento!!

Visite o site:
Paço Imperial

Conheça mais do artísta:
Burle Marx