segunda-feira, 13 de abril de 2009

ter, tempo, espaço e colapso


Tempo? Espaço? Pra que? Por que? Se eu “penso, logo existo”, então o tempo e o espaço seriam condições de existir. Mas em meio ao colapso eminente da vida humana, existe esse “tempo” ou “espaço”? Pensamos ou existimos?

Vejam o forno microondas, a tv de plasma, o “Faustão”, o “BBB”, a moda, ipod e wii. Deixam de existir porque não pensam? Bom, gostaria de afirmar que não, mas, estão lá! No espaço de nossas salas, quarto e cozinhas, andando conosco pelas ruas, dizendo coisas, propagando nosso tempo, transmitindo verdades de liquidificador.

Surpreso pela idéia de que meu forno e até o “BBB” pensam, pergunto-me: Estaria no tempo de assar um belo pedaço de frango, onde o prato rotaciona a comida pacientemente esperando o agitar das moléculas, a resposta para os anseios de nossos tempos, cada vez mais escasso de espaços para pensar?

Numa época de colapsos da economia, das finanças, das balanças comerciais, das relações humanas presenciais, do amor, do carinho, da esperança no futuro, da natureza e seus recursos, não estaríamos, então, percebendo uma nova realidade de existir, onde nosso tempo e espaço entram em colapso? Onde presente, passado e futuro parecem nada significar? Onde milhares de infinitos corpos podem ocupar o mesmo lugar e tempo no espaço?

Quando substituimos o “pensar”pelo “ter” não damos ao deleite das “coisas” a ordem do nosso existir? Então, se tenho logo existo, o tempo da vida passa a ser o tempo das “coisas”. O que tenho me permitiria o tempo certo e apropriado para meus espaços, sendo assim, quem tem as “coisas” seriam os “Deuses” de nossa vontade? Ou até de nossa felicidade? Parece-me que quanto menos eu tenho, mais tempo e espaço sobram para perceber que nada somos além de um imenso colapso do existir. Apenas uma agitação frenética de moléculas girando num enorme microondas e esperando o tempo do término.

Agora que me permito mergulhar em pensamentos de teclas percebo que sinto um pesar pelo tempo em que espaços da vida eram tomados pelos sorrisos, lágrimas e abraços e não por uma tecla de dividir palavras. Tempo de pensamentos divididos e vividos e quando as “coisas” apenas ocupavam espaços e agilizavam o tempo para nosso sentimentos. Tempo esse, onde o ter era o simples prazer de ser.

Alexandre Soma (Arte e Texto)

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